High Gravity: como fazemos?

High Gravity: como fazemos?

E aí, pessoal, quem vos escreve é o Thiago, sou cervejeiro no Devaneio do Velhaco. O assunto hoje é cervejas com alto teor alcoólico.

“Nós nunca quisemos limitar as produções do Devaneio do Velhaco a nenhum estilo.”

Aliás, queremos sempre estar o mais longe possível de qualquer tipo de limitação na nossa fábrica e por isso estamos sempre estudando e desenvolvendo novas cervejas e tomando riscos para produzir novos estilos. Lançamos juntamente da nossa plataforma de venda online algumas cervejas High Gravity, em garrafas de 375ml de champanhe. Temos muito orgulho da nossa linha de cervejas extremas e pesadas e entendo que conseguimos imprimir nelas o nosso estilo característico de elegância e equilíbrio.

Sejam elas Imperial Stouts, Barley Wines, Wheat Wines ou outro estilo extremo, o importante é chegar até vocês, e o potencial de guarda e conservação dessas cervejas nos permite jogar com o tempo.

Agora, uma coisa importante de toda técnica, seja de produção de cerveja, seja em qualquer outro mercado, é que há momentos e momentos. O que quero dizer com isso? Aqui no Devaneio nós sempre aprimoramos a técnica base para depois distribuir as linhagens subsequentes daquela cerveja. Dessa maneira, o lançamento dessa categoria se apresenta inicialmente com cervejas “straight”, sejam elas com ou sem envelhecimento em carvalho. No máximo com um toque para complementação multidimensional de algum insumo que amamos, como café, por exemplo. Queremos que a experiência de vocês seja por etapas e acreditamos que a verdadeira técnica do cervejeiro aparece através da simplicidade, quando ele não tem aonde se esconder. E adjuntos exagerados acabam por mascarar a verdadeira qualidade da criação e a consistência dos métodos de produção. Contudo, peço que não se preocupem, respeitamos e adoramos bombas de adjuntos cremosas e a hora delas irá chegar, mas o momento não é agora.

“Tudo começa com uma longa fermentação em tanques de aço inox.”

Somos amantes de uma maturação limpa e calma. Apesar da adega de inox ser pequena, não apressamos o passo. São pelo menos 50 dias para aprimorar sabores e arredondar as quinas de complexidade. Isso faz com que a cerveja possa ser aproveitada em cada milítro. Ainda assim envelhecemos e maturamos essa cerveja em garrafa antes de lançar. Dessa vez, diferentemente dos outros produtos que envasamos em vidro, não há refermentação dentro da garrafa. Queremos oxigênio, apesar de pouco. Queremos uma microoxidação antes de a cerveja chegar até vocês, e antes disso ela não é liberada para venda. Pelo menos 3 meses são necessários para que isso ocorra. Antes disso ela pode ser considerada um belo instrumento, mas incapaz de emocionar. 

“Passado esse período ela passa ser um concerto inteiro.”

Complexidade de sabor e aroma acumuladas, nunca escondidas e perdidas uma da outra, fazem com que seja difícil até de identificarmos cada camada. A sabedoria em provar uma maravilha dessas está em não pensar, ou pelo menos pensar nela como um ser apenas, um conjunto. É lindo. É indescritível. E vem embalado em trezentos e setenta e cinco milésimos de litro.

Mas não acaba por aí. Afinal, aqui no Velhaco o foco é a madeira mesmo, para adicionar ainda mais complexidade a essas cervejas já extremas. Recentemente aumentamos nossa adega com algumas barricas retostadas e pudemos escolher o nível de queima da madeira. Optamos por abraçar barricas com diferentes níveis de tosta para que as suas vidas no Devaneio sejam acrescidas de uma nova etapa. Agora nossas barricas receberão cervejas extremas em primeiro e segundo uso e depois então partirão para uma nova história com a nossa linha de fermentação mista. Esse é o ciclo aqui na nossa casa, a norma é transformação.

Até a próxima!